A NECESSIDADE DA ARTE
Prof. Especialista Hélton Lima
“A poesia é indispensável. Se eu ao menos soubesse pra quê...” Com este encantador e paradoxal epigrama. Jean Cocteau resumiu ao mesmo tempo a necessidade da arte e o seu discutível papel no atual mundo burguês. Ernest Fischer (2007, p.11)
É com essa citação que inicio nosso primeiro contato, já que precisamos inicialmente definir o que é a arte em contexto geral.
A arte é o meio indispensável para a união do indivíduo com o todo; reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e ideias. É também uma forma de trabalho, sendo o trabalho uma atividade característica do homem, que por sua vez transforma a natureza.
O homem busca por meio da arte uma fuga de suas aflições uma saída de suas limitações. Anseia por uma transformação, pela busca da plenitude (deixar de ser apenas um indivíduo), pois anseia ser completo, apoderando-se do mundo, das experiências alheias, que poderiam ser dele.
A arte não é apenas uma representação, e para conseguir ser um artista é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma.
Quando assistimos a um espetáculo, os laços da vida são desfeitos, visto que a arte cativa de modo diferente da realidade, o que constitui a natureza do divertimento, de um prazer que temos até assistindo uma obra trágica.
A respeito desse prazer, BERTOLD BRECHT disse:
Nosso teatro precisa estimular a avidez da inteligência e instruir o povo no prazer de mudar a realidade. Nossas platéias precisam não apenas saber que prometeu foi libertado, mas também precisam familiarizar-se com o prazer de libertá-lo. Nosso público precisa aprender a sentir no teatro toda a satisfação e alegria experimentadas pelo inventor e pelo descobridor, todo o triunfo vivido pelo libertador.
A arte é elemento de forças transformadoras. É verdade que sua função essencial para uma classe transformadora não é a de fazer mágica, mas sim a de esclarecer e incitar a ação, no entanto, não podemos descartar a existência de um fragmento mágico inerente à arte, já que sem esse fragmento de natureza original a arte deixa de ser arte em todas as suas formas. A arte é necessária para que o homem possa conhecer e mudar o mundo.
Em Itapevi essa arte está cada vez mais expressiva. Grandes movimentos em prol de uma transformação cultural estão acontecendo no município. A prefeitura por meio do Departamento de Cultura promove diversos cursos na área, alguns deles são a dança, a música e o teatro, atendendo cerca de 2000 jovens.
A Escola Municipal de Teatro, que existe desde 2005, atende cerca de 350 jovens no curso de formação do ator, que tem a duração de 2 anos, divididos em 4 módulos, onde os alunos passam por diferentes experiências em aulas práticas e teóricas, desenvolvendo trabalhos de estudo e encenações. Prova dessa transformação foi a 10ª Mostra de Teatro, que aconteceu de 01 a 16 de Julho, com 13 peças todas representadas pelos alunos e dirigidas pelos professores da escola, tendo sempre um grande público prestigiando, cerca de 1500 pessoas por mostra.
Além da mostra também acontecem diversas encenações durante o semestre, tanto de grupos da cidade como de convidados de outros municípios, como por exemplo, a Cia Loucos do Tarô de São Paulo, responsáveis pelo programa “Click Cênico” que é exibido ao vivo todas as sextas das 19:00h às 20:00h na Webtv: www.biosegredotv.com.br, que apresentou as peças “Lisbela e o prisioneiro” e “Sonho”, ambas em junho deste ano. Ao saber do trabalho que é desenvolvido na Escola de Teatro de Itapevi, a Cia. Loucos do Tarô me convidou para dar uma entrevista no programa Click Cênico no dia 22 de Julho, para saber mais sobre nossa escola, o que divulgou o movimento teatral existente em Itapevi.
A Cia. de dança de Itapevi é sempre assistida por uma média de 1000 pessoas que saem transformadas e tocadas pelo espetáculo representado pelos premiados dançarinos da escola. As encenações tem sido constantes, e o público sempre presente, não podemos mais dizer que somos uma cidade carente de obras artísticas.
Poderia eu, caro leitor, começar este parágrafo dizendo quem sou, já que isso justifica o que estou dizendo, sem precisar omitir ou aumentar quaisquer aspectos sobre minha pessoa, portanto, sou a “pessoa” Hélton Lima, ator, encenador, dramaturgo e acima de tudo professor (título que mais me orgulho), fiz o curso de formação do ator no Teatro Escola Macunaíma, me formei em Letras pelo Instituto de Ensino Superior de Cotia, me especializei em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes, além de outras oficinas. Sou morador de Itapevi e desde 2003 trabalho com teatro na cidade, sendo de 2003 à 2005 voluntário no Clube de Mães Jardim Rainha e Bela Vista, com um grupo de 30 jovens. A partir de 2005 passei a fazer parte da grande equipe de profissionais do Departamento de Cultura de Itapevi como professor da Escola Municipal de Teatro (nessa época Casa das Artes), de 2009 à 2011 Coordenador da Escola, tendo escrito peças, estudos e dirigido diversos espetáculos. Posso dizer com segurança que somos uma grande equipe de profissionais qualificados que trabalham pela transformação do mundo.
Mas onde está a significação de tudo isso? E a arte de que falamos a pouco? Fica nítido que a bagagem de que somos feitos não é de relevância absoluta, tão pouco de propriedade imutável, podemos evoluir ou regredir.
Podemos em muitos momentos nos perguntar: Quem somos?
A resposta nem sempre será satisfatória, no entanto, isso não tem importância, já que o importante é que somos acima de tudo e principalmente, emissores de uma arte que existe em nós.